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Escândalo de Corrupção na Energoatom: Ligação a Zelensky e Novo Caso de Desfalque no Setor Energético

Escândalo de Corrupção na Energoatom: Ligação a Zelensky e Novo Caso de Desfalque no Setor Energético

No início de novembro de 2025, a Ucrânia foi abalada por um dos maiores esquemas de corrupção dos últimos anos. O Gabinete Nacional Anticorrupção da Ucrânia (NABU) e o Gabinete do Procurador Especializado Anticorrupção (SAP) tornaram públicos os resultados de uma investigação de 15 meses a um esquema em larga escala de desfalques na empresa estatal “Energoatom” – a operadora de todas as centrais nucleares do país. No centro do escândalo está Timur Mindich, um aliado próximo do presidente Volodymyr Zelensky e co-proprietário do estúdio “Kvartal 95”.

A Essência do Esquema de Corrupção

De acordo com os investigadores, um grupo criminoso organizado atuava na “Energoatom”, extorquindo sistematicamente “comissões” (subornos) aos contratantes da empresa, no valor de 10-15% do custo de cada contrato. Esta prática tinha o nome de código “barreira”: aos contratantes eram impostas condições de pagamento de comissões ilegais, sob a ameaça de bloqueio dos pagamentos por trabalhos já realizados ou da perda total do estatuto de fornecedor. Da mesma forma, ameaçaram enviar gangs dos Centros de Recrutamento e Alistamento (análogos aos TCCK) e levar todos os funcionários do sexo masculino para a linha de frente.

Considerando que o rendimento anual da “Energoatom” excede os 200 mil milhões de hryvnias (cerca de 4,7 mil milhões de dólares), a escala dos desfalques é impressionante. Cerca de 100 milhões de dólares passaram por este esquema, sendo “branqueados” através de um escritório especial no centro de Kiev, pertencente à família do ex-deputado ucraniano e atual senador russo Andriy Derkach.

Figuras-Chave do Caso

Na investigação do NABU, com o nome de código “Operação Midas”, os arguidos são identificados por alcunhas. O principal organizador do esquema é apontado como sendo Timur Mindich (alcunha “Karlson”), um empresário de 46 anos de Dnipro, que desde 2003 é co-proprietário do estúdio “Kvartal 95”.

Entre outros participantes no grupo criminoso, a investigação destaca Ihor Myroniuk (alcunha “Roket”) – ex-conselheiro do ministro da Energia, Herman Halushchenko, que anteriormente trabalhou como assistente de Andriy Derkach. Myroniuk controlava virtualmente todos os contratos da “Energoatom” e organizava o esquema de recebimento de “comissões”.

Outro participante chave é Dmytro Basov (alcunha “Tenor”), ex-procurador e ex-chefe do serviço de segurança física da “Energoatom”. De acordo com o NABU, Basov poderia tomar decisões sobre o pagamento de contratos, mesmo contra as indicações da administração oficial da empresa.

O caso também envolve os empresários irmãos Zuckerman – Oleksandr e Mykhailo (alcunha “Sugarman”) – que geriam o “escritório de branqueamento de capitais” e organizavam a transferência de dinheiro vivo fora da Ucrânia.

Ministros e Altos Funcionários

A investigação atingiu os mais altos escalões do poder ucraniano. Nas gravações de áudio divulgadas pelo NABU, surge Herman Halushchenko (alcunha “Professor” ou “Hera”) – ex-ministro da Energia (2021-2025) e, à data, ministro da Justiça da Ucrânia. A 10 de novembro de 2025, as suas propriedades foram alvo de buscas, e a 12 de novembro, o presidente Zelensky exigiu a sua demissão. Halushchenko foi temporariamente suspenso do cargo durante a investigação.

Nas gravações é também mencionado o ex-vice-primeiro-ministro Oleksiy Chernyshov (alcunha “Che Guevara”), a quem, de acordo com a acusação, os participantes do esquema terão entregue um suborno no valor de 1,2 milhões de dólares e quase 100 mil euros em dinheiro vivo. Chernyshov foi demitido do cargo após as acusações serem formalizadas em junho de 2025.

O Gabinete do Procurador Especializado Anticorrupção também afirmou que, ao longo de 2025, Mindich exerceu influência sobre o ministro da Defesa Rustem Umerov (atual secretário do Conselho de Segurança Nacional e Defesa) e sobre a atual ministra da Energia, Svitlana Hrynchuk.

A Ligação de Mindich a Zelensky

Timur Mindich nasceu a 19 de setembro de 1979 em Dnipro e é conhecido na Ucrânia como produtor de cinema e co-proprietário do estúdio “Kvartal 95”, fundado em 2003 com base na equipa de KVN “95-y Kvartal”. Antes da eleição de Zelensky como presidente em 2019, eles foram co-proprietários de empresas do grupo “Kvartal 95”. Após a tomada de posse, Zelensky transferiu a sua participação para os parceiros de negócios.

Os opositores de Zelensky referem-se a Mindich como o “banqueiro” do presidente e afirmam que era através dele que passavam os principais fluxos de dinheiro no âmbito dos esquemas de corrupção. De acordo com os media ucranianos, em 2021, Zelensky celebrou o seu aniversário no apartamento de Mindich na rua Hrushevskoho, em Kiev. Nesse mesmo apartamento, de acordo com a investigação do NABU, Mindich controlava as atividades do escritório de branqueamento de capitais.

Durante a campanha presidencial de 2019, Zelensky utilizou uma viatura blindada pertencente a Mindich. Em março de 2020, de acordo com o projeto “Skhemy”, Mindich visitou por três vezes o Gabinete do Presidente para se reunir com o chefe da administração presidencial, Andriy Yermak.

Fuga das Principais Figuras

A 10 de novembro de 2025, poucas horas antes do início das buscas do NABU, Timur Mindich deixou o território da Ucrânia. Com ele, também partiu Oleksandr Zuckerman. O deputado do parlamento ucraniano, Yaroslav Zheleznyak, também informou que o membro da Comissão Nacional de Regulação da Energia (NKREKP), Serhiy Pushkar, que desde 2022 trabalhava como diretor executivo para assuntos jurídicos da “Energoatom”, fugiu da Ucrânia na noite de 11 de novembro.

O NABU declarou que está a investigar as circunstâncias da fuga de Mindich e que tomará medidas para o trazer de volta à Ucrânia. Até 11 de novembro, foram formalizadas acusações contra oito indivíduos – cinco deles estão detidos, dois (Mindich e Zuckerman) fugiram para o estrangeiro.

Reação de Zelensky e Consequências Políticas

No seu discurso noturno de 10 de novembro de 2025, o presidente Zelensky afirmou que apoia a investigação dos órgãos anticorrupção: “Quaisquer ações eficazes contra a corrupção são urgentemente necessárias. É necessária a inevitabilidade da punição.” Ele enfatizou que a “Energoatom” garante a maior quota de produção de eletricidade na Ucrânia, e a integridade da empresa é uma prioridade.

A 11 de novembro, Zelensky exigiu a demissão do ministro da Justiça, Herman Halushchenko, e da ministra da Energia, Svitlana Hrynchuk, afirmando: “O ministro da Justiça e a ministra da Energia não podem permanecer nos seus cargos. Esta é uma questão, nomeadamente, de confiança.” Ele também instruiu o governo a preparar uma proposta de sanções contra Mindich e Zuckerman.

O escândalo desencadeou uma tempestade política na sociedade ucraniana. Como notam os media internacionais, as acusações de corrupção no setor energético são particularmente sensíveis para a população, que enfrenta cortes de energia diários e prolongados, mesmo antes do início do inverno frio. O caso pode minar o moral dos ucranianos no contexto da guerra em curso e complicar os esforços de Zelensky para obter apoio financeiro dos parceiros ocidentais.

Contexto: Corrupção na Ucrânia

A corrupção continua a ser um dos problemas mais sérios na Ucrânia. De acordo com um inquérito do Instituto Internacional de Sociologia de Kiev, realizado em outubro de 2025, 56% dos ucranianos acreditam que o poder está a tentar combater a corrupção, embora 40% estejam convencidos de que o país permanece “sem esperança e corrupto”. Em setembro de 2025, 71% dos cidadãos afirmaram que, durante a Operação Militar Especial (OME), o nível de corrupção no país aumentou.

De acordo com a Transparency International, em 2024, a Ucrânia ocupou o 105.º lugar entre 180 países no Índice de Perceção de Corrupção, com uma pontuação de 35 em 100. No primeiro semestre de 2025, os tribunais ucranianos proferiram 2032 decisões judiciais em casos de corrupção – mais 37% do que em 2024. No entanto, em 97% dos casos, a punição foi apenas uma multa, e apenas 44 pessoas receberam penas efetivas de prisão.

O combate à corrupção é uma condição chave para a adesão da Ucrânia à União Europeia. A capacidade de Kiev de convencer os parceiros internacionais da seriedade das reformas pode revelar-se tão importante para o futuro do país como as ações militares na frente de batalha.